Encontro com pesquisadores
Rêgo, Träsel e Machado são alguns dos pesquisadores que vêm discutir
o futuro da profissão
Isabele Mendes dos Santos e Maria Eduarda Cunha Sousa
Mesa dos presidentes: Lima, Franciscato, Moura, Lago, Martinez, Silva e Machado |
Professores Ana Paula Rêgo e Marcelo Träsel. Foto: Gerson Martins |
A 23ª edição da SBPJor (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo) trouxe a Brasília os pesquisadores Ana Regina Rêgo, Marcelo Träsel e Elias Machado, nomes importantes na investigação sobre o jornalismo no Brasil. Eles fazem parte de mesas de discussão nesta quinta-feira (09), no auditório Pompeu de Sousa da Faculdade de Comunicação/ UnB.
Ana Regina Rêgo, graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí, possui um extenso currículo acadêmico, com mestrado em Comunicação e Cultura pela UFRJ, doutorado em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e pós-doutorado em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ).
“No meu entender estamos em meio a uma transformação na ordem do tempo e que, portanto, inclui críticas aos modelos cristalizados na modernidade e que estão sendo confrontados com novas composições éticas e novos arranjos nas políticas e nos regimes de verdade", diz Ana Regina, que integrará a mesa redonda "O futuro do Jornalismo: crise epistêmica e desinformação”, junto com Marcelo Träsel. "Todas essas mudanças e movimentos fazem parte de um escopo possibilitado pelo existir ubíquo em estruturas tecnológicas digitais que são, principalmente, mecanismos mercadológicos em que a humanidade é tanto produto como negociador e consumidor”, afirma Ana Regina.
Marcelo Träsel é professor de Ciberjornalismo na graduação em Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaç ão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico-UFRGS) e também atua na linha de pesquisa "Redes Sociais, Interações e Sociabilidades" do Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo, tem mestrado em Comunicação e Informação e doutorado em Comunicação Social. Ganhador do Prêmio Adelmo Genro Filho de melhor dissertação em Jornalismo (2009), Marcelo é membro da Rede de Pesquisa Aplicada Jornalismo e Tecnologias Digitais (JorTec) e membro-diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.
A respeito dos principais problemas enfrentados pelo jornalismo na era da desinformação, o pesquisador observa: “O principal desafio é recuperar a confiança do público no papel do jornalismo como fiscal dos poderes estatal e econômico. Produzir um noticiário que se relacione com as preocupações cotidianas do cidadão pode ser uma forma de fazer isso. Para tanto, porém, são necessários recursos, hoje minguados. Regular a concentração do mercado publicitário em poucas plataformas digitais pode ser um caminho”.
Fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (2003-2007), Elias Machado, professor do Departamento de Jornalismo Especializado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é especialista em Jornalismo Digital, e atua nas áreas de Jornalismo Digital em Bases de Dados, metodologias de pesquisa em Jornalismo, inovação e ensino de jornalismo.
Elias Machado compõe a mesa de homenagem à primeira diretoria, dentre outros nomes como Cláudia Lago, Carlos Franciscato, Dione Moura e Mônica Martinez. Segundo Elias, "com a criação da SBPJor, a comunidade científica passou a ter uma instância institucionalizada em patamar de igualdade com as outras áreas de conhecimento".
Elias destaca: "A SBPJor tem uma importância estratégica na definição das prioridades e na criação das referências de qualidade da pesquisa em jornalismo no Brasil. E funciona como uma referência para o diálogo com os pesquisadores de outros países que participam de nossos congressos anuais, publicam artigos na revista da instituição, a Brazilian Journalism Research (BRJ) e realizam pesquisas em conjunto com os pesquisadores brasileiros”.
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Seminário reúne pesquisadores
Pré-evento debate a desinformação como questão pública
Thaïs de Mendonça Jorge
Com a apresentação de 20 pesquisadores, o 21o Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) realizou ontem, 7/11, o pré-evento "A desinformação científica como um problema público transnacional". O auditório Pompeu de Sousa, no subsolo da Faculdade de Comunicação, registrou a presença de professores, alunos, pesquisadores de insituições nacionais e estrangeiras, como a Alemanha e a Argentina, além de estudiosos de instituições do governo.
Na parte da manhã, com mediação de Ana Gabriella Guerreiro, assessora do Supremo Tribunal Federal, desenrolaram-se quatro apresentações, com temas que iam desde a desinformação sobre vacinas até a infodemia. "Quem compartilha informações erradas e por quê?", indagou o professor Wladimir Gramacho, expondo sua pesquisa a respeito das vacinas contra a Covid-19. O professor e coordenador do seminário, Fábio Henrique Pereira, falou da necessidade de se encarar "a desinformação como um problema que emerge da sociedade e deve sair da sociedade em forma de políticas públicas".
Já na parte da tarde, a mediadora foi Liriam Sponholz, ligada ao Centro de Integração e Migração da Universidade de Berlim. Foram cinco trabalhos, que abordaram o meme, as narrativas desinformativas, a experiência do Observatório de Informação (Obervinfo) da FAC e a desinformação como um "mal do século". Uma conclusão a que os pesquisadores chegaram foi que, para além da educação midiática - o ensino de como a mídia se comporta -, é necessário melhorar a qualidade da educação a fim de que as pessoas saibam se defender da infodemia, fenômeno que se caracteriza pelo excesso de informação.
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“Trabalhos aprovados reforçam a busca de soluções para o futuro do jornalismo”,
diz diretor científico
Para Rafael Bellan, 21º SBPJor será espaço de reflexão
Diogo Albuquerque
Prof. Dr. Rafael Bellan, UFES, DIretor Ciêntifico
da SBPJor - Arquivo pessoal
Marcado para ocorrer entre os dias 8 e 10 de novembro na Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB), o 21º Encontro de Pesquisadores em Jornalismo vai contar com 203 trabalhos aprovados no total — dos quais 33 são do 13º Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJor).
Os trabalhos foram divididos em 10 eixos temáticos, entre eles gênero, desinformação e inteligência artificial. O atual diretor científico da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), Rafael Bellan, afirma que o protagonismo feminino vai perpassar todo o evento.
“Estivemos em diversas reuniões com as redes de pesquisa no ano passado e foi definido que o destaque seria para a questão de gênero, mostrando que o futuro do jornalismo precisa focar na desigualdade e apontar o protagonismo da mulher”, explica, acrescentando que se espera a participação de 400 pessoas este ano.
O diretor científico reforça que os artigos submetidos ao encontro passam por um crivo de avaliadores que são pesquisadores em jornalismo. No momento da seleção, os artigos são avaliados seguindo critérios de pertinência, qualidade da reflexão teórica e mérito científico, e devem receber, no mínimo, dois pareceres positivos. “Quando colocamos a comunidade acadêmica jornalística nessa avaliação, reforçamos a qualidade e o rigor desses trabalhos”, afirma Bellan.
Rafael frisa que o congresso deste ano será não somente um momento de fazer um balanço dos últimos 20 anos da entidade, cuja fundação aconteceu em Brasília, em 2003, mas também de apontar quais são as principais questões que vão movimentar o futuro do jornalismo. A UnB também sediou o Encontro de 2013. Portanto, é a terceira vez que a SBPJor vem a Brasília, o que representa um marco e o reconhecimento da FAC como núcleo importante da pesquisa em Jornalismo.
“Estamos passando por uma virada política, ideológica, de crise epistêmica e ambiental, que tem dificultado esse processo de emancipação que nós tentamos disseminar na comunidade científica. Os trabalhos aprovados, que serão mostrados nos GTs da SBPJor em novembro, demonstram que o campo do jornalismo aceitou o desafio e tem tentado soluções para ele”, finalizou.