Entrevista

 

O principal papel da SBPJor é estimular as pesquisas

 

voltadas às questões da vida real

 

Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor),

Samuel Lima fala sobre pesquisa, redes sociais e planos para o futuro

 

 Gabriela Moura e Ludimila Resende

 

 

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Prof. Dr. Samuel Lima, UFSC.  "Afeto,

amizade e proximidade com a UnB"

 

 

O professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pesquisador e presidente da SBPJor Samuel Pantoja Lima está concluindo seu mandato na diretoria da Associação. Em entrevista, Lima destacou as metas alcançadas durante os últimos 20 anos e os objetivos para o futuro da SBPJor. Lima, que já atuou como professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), expressou suas perspectivas para o jornalismo e disse o que fará em seus próximos anos de pesquisa. Neste bate-papo, ele falou de sua paixão pela Universidade que é "um polo de produção de conhecimento, resistência e excelência". Outra paixão de Samuel Lima é a capital brasileira, onde trabalhou como bancário e construiu fortes laços. Samuca definiu  o 21o. Encontro da SBPJor, entre os dias 8 e 10 de novembro, como "uma celebração": "Um reencontro com as raízes, como se estivéssemos voltando para nos reconectar e nos reabastecer".

 

Em que contexto surgiu a SBPJor e por qual razão se decidiu criá-la?

Samuel Pantoja Lima: No começo dos anos 2000 era evidente que o Jornalismo havia se transformado em um objeto de pesquisa cada vez mais importante na área da comunicação e um grupo pequeno já não era o suficiente para esse trabalho. De início, houve uma certa resistência, sobretudo da  Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), porque avaliavam que a comunicação contemplaria tudo e não havia necessidade de algo novo. Um fato curioso da assembleia de fundação da SBPJor foi que, na lista dos presentes, o primeiro nome era do  saudoso professor José Marques de Melo, o principal nome para a criação da Intercom e de referência para a pesquisa em jornalismo no país. Outro presente naquele encontro foi o pesquisador da FAC, falecido recentemente, professor Luiz Gonzaga Mota. Então, o contexto era a necessidade de criar uma entidade de pesquisa que permitisse que nós pudéssemos chegar onde chegamos hoje. A SBPJor tem atualmente centenas de filiados, tem seis redes de pesquisa e já está caminhando para a sétima, que irá abranger teorias do jornalismo. 

 

Na  fundação da Associação, você era um estudante de doutorado e agora está concluindo um mandato. Como enxerga todo esse período?

SPL: Quando terminei o doutorado, em 2005, me voltei para o âmbito da pesquisa e minha maior inquietação, naquela época, era a falta de pesquisas sobre a profissão de jornalista e as condições de trabalho. Em 2012 realizei uma pesquisa sobre o perfil do jornalista brasileiro, que foi lançada em 2013 comemorando os 10 anos da SBPJor. Durante os anos em que atuei na presidência da associação aconteceram muitas coisas interessantes. Uma delas é o projeto da editora da SBPJor que vai lançar seu primeiro livro no 21° encontro, em Brasília. A editora se chamará Luiz Gonzaga Mota. Todos os trabalhos de que participei na SBPJor são gratificantes e vou levar para o resto da vida, são coisas fecundas e produtivas que fiz ao longo da vida acadêmica.

 

O senhor está pesquisando algum assunto no momento?

SPL: Nos próximos anos, quero me dedicar a uma pesquisa sobre a sustentabilidade de projetos de jornalismo local. De 2015 a 2019 realizei, em Joinville (SC), a primeira etapa deste trabalho, que se chama "Governança, produção e sustentabilidade para um jornalismo de novo tipo". Agora, estou começando a refazer essa pesquisa em Florianópolis (SC). A intenção é trabalhar os novos formatos de linguagem do jornalismo. Outro projeto que está em andamento é a pesquisa sobre inovação para divulgação do jornalismo científico. 

 

Em 2003, durante a criação da SBPJor foram estipuladas metas? Essas metas foram alcançadas? Quais são os objetivos para o futuro?

SPL: A principal meta era criar uma entidade que permitisse transformar o jornalismo em um objeto de pesquisa científica no Brasil. Esse era o grande objetivo da SBPJor e, sem dúvida alguma, foi alcançado. Uma grande conquista foi a Brazilian Journalism Research (BJR), uma das principais publicações no campo da pesquisa em jornalismo não só no nosso país, mas internacionalmente. Hoje, o objetivo é alcançar a consolidação da sétima rede de pesquisas e criar encontros regionais da SBPJor para mobilizar ainda mais a associação. Outra meta é aumentar o número de associados.

 

Qual é o papel da SBPJor para o jornalismo atual?

SPL: O principal papel da SBPJor é estimular as pesquisas voltadas às questões da vida real. A maneira mais interessante de contribuição da SBPJor para qualificar o ensino é se relacionar com o tema ensino e extensão, com os problemas do mudo real do jornalismo e com as questões que se relacionam com a universidade e com os contextos socioeconômicos e culturais.  Então, nós procuramos fazer essa ponte permanente entre a pesquisa e esses aspectos. 

 

Qual é a importância da discussão do tema do 21º Encontro, que envolve justamente o futuro do jornalismo e a desinformação, após um extenso cenário de fake news?

SPL: A mentira como estratégia de poder faz um estrago muito maior do que as fake news no jornalismo, porque é colocada em cheque a possibilidade de construir a verdade como pacto social. Acredito que precisamos enfrentar isso. É necessário repactuar o valor do jornalismo para a sociedade, incluir o público no nosso fazer, conseguir que as nossas pautas passem a representar mais os interesses diversos da sociedade e não apenas aquilo que a gente acha que é notícia. Este é o grande tema do momento. O fundamental é pensar que estamos enfrentando um dilema e discuti-lo. 

 

Em um momento de tantas mudanças na forma de fazer jornalismo, quais são as perspectivas para o futuro da SBPJor e da profissão?

SPL: Eu sou otimista. Aos 63 anos e 40 de profissão, eu preciso ser otimista para continuar lutando. Estamos em um momento de transição; num futuro muito próximo, daqui a uns cinco ou 10 anos, teremos uma hegemonia de veículos on-line. Existe um  grande futuro para o jornalismo. Eu não consigo enxergar nada que possa ser colocado no lugar do jornalismo, no sentido de construir um conhecimento que dê conta do presente, ou seja, do imediato. A ciência, a arte, a antropologia, a filosofia não vão fazer isso, quem dá conta desse presente precioso são os jornalistas. Aconteceram mudanças na tecnologia e nos hábitos de consumo da sociedade. O futuro da profissão talvez caminhe para o fortalecimento de projetos independentes. O jornalismo convencional não vai desaparecer, mas precisa ser reinventado. Acredito que a profissão vai longe e vai render muito ainda.

 

Qual é a importância da SBPJor voltar à Universidade de Brasília?

SPL: Tem um simbolismo que passa pela celebração dos 20 anos. Mas também tem uma ideia do que a UnB significa para todos nós: um polo de produção de conhecimento, resistência e excelência. Respiramos na Universidade esse ar de história. Tantas figuras importantes da ciência e da educação brasileira transitaram por aqui. Este encontro é uma celebração, um abraço fecundo e poderoso em tudo o que a UnB representou para a criação da SBPJor. É um reencontro com as raízes, como se estivéssemos voltando para nos reconectar e nos reabastecer. Minha expectativa é que, além da troca de informações, este seja um encontro marcado também pelo afeto, abraço e reencontro.

 

O que te encanta em Brasília?

SPL: Antes de ser professor e pesquisador, fui bancário por 17 anos e transitei muito por Brasília durante os movimentos sindicais bancários. Grandes referências afetivas da minha vida estão também em Brasília, uma delas é a música. A UnB é um ambiente propício a grandes amizades. Lembro que, quando trabalhei na Universidade, nós, professores da Faculdade de Comunicação, tínhamos uma boa relação com os professores das outras faculdades e nos reuníamos em vários momentos. Isso foi algo que me marcou muito.

 

O que significa voltar à Faculdade de Comunicação em que já foi professor?

SPL: Eu estive em Brasília em junho e já foi de arrepiar. Prevejo muita emoção por reencontrar velhos camaradas. Minha expectativa é a melhor possível. Será uma semana de imersão no conhecimento jornalístico, mas especialmente nas coisas do coração. Acredito que sem isso não caminharíamos. Espero encontrar essa raiz. Brasília sempre foi uma referência pela qual tenho muito carinho. É sempre marcante em nossas vidas passar por Brasília e pela UnB.

 

 

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ENTREVISTA

 

Contagem regressiva para a SBPJor 2023

 

Luciano Verdolin Arcoverde

 

 

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Prof.ª Dr.ª Rafiza Varão, FAC - UnB,  Coordenadora

Geral da Comissão Organizadora Regional

 

 

 

Em poucos dias, a Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB) recebe o 21ª Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e o 13º Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJor). Os eventos serão realizados de 8 a 10 de novembro. Na reta final dos preparativos, a coordenadora geral da Comissão Organizadora Regional, professora Rafiza Varão, fala sobre os preparativos para receber esta edição histórica, que celebra 20 anos da SBPJor.

 

Como foi o planejamento para o evento?

Rafiza Varão: Foi bem longo. Desde novembro de 2022, mais de 200 pessoas, entre professores, técnicos e estudantes estão trabalhando nisso, com muito esforço e dedicação. A participação dos estudantes é muito importante, para que eles se tornem protagonistas nesse processo. Mobilizamos muita gente, da própria Universidade e das instituições parceiras, para garantir que o evento seja um sucesso.

 

Quantas pessoas são esperadas?

RV: São esperados 400 participantes, de todos os estados brasileiros. Na conferência de abertura teremos a professora Florence Le Cam, da Universidade Livre de Bruxelas.

 

Qual a importância da realização desta edição em Brasília?

RV: É uma importância histórica. É uma edição comemorativa de 20 anos, celebrando também a fundação da SBPJor, em 2003, nas dependências da Faculdade de Comunicação. Temos trabalhado com uma série de estratégias de acessibilidade, como baias de atendimento a pessoas com necessidades específicas. A organização foi pensada para que as atividades fossem realizadas predominantemente no andar térreo do Instituto Central de Ciências (ICC). O Minhocão, como nós o chamamos, é o prédio principal do Campus Universitário Darcy Ribeiro, onde fica localizada a FAC.

 

Que dicas você dá aos convidados que estão vindo de fora de Brasília?

RV: Que venham seguros e confiantes. Estamos aqui para atendê-los de forma amiga e afetuosa. Orientamos para que sigam nossas redes e nosso site onde estarão as melhores dicas relacionadas ao evento.